Fábio Mota: Presidente do Vitória Detalha Fracassos e Promete Reformulação Após Eliminação

A recente eliminação do Vitória na Copa do Nordeste, em pleno Barradão, diante do Confiança, marcou um dos pontos mais baixos da temporada. A derrota por 1 a 0 na última terça-feira não apenas encerrou a jornada do Leão no torneio, mas também precipitou uma série de explicações e decisões por parte da diretoria. Em uma coletiva de imprensa convocada às pressas, o presidente Fábio Mota veio a público para abordar o cenário delicado, anunciando o desligamento do técnico Thiago Carpini e detalhando os próximos passos do clube.

A Copa do Nordeste, competição em que o Vitória se destaca como um dos maiores campeões ao lado do Bahia, com quatro títulos, era vista como uma prioridade. Contudo, a ausência em uma final desde 2010 persiste, e a queda nas quartas de final soma-se a uma sequência de reveses em 2025: eliminação precoce na Copa do Brasil para o Náutico, saída na primeira fase da Copa Sul-Americana e o vice-campeonato baiano. Um semestre marcado por frustrações que exigem respostas contundentes.

O Pedido de Desculpas e o Fim de um Ciclo Técnico

O presidente Fábio Mota não hesitou em expressar seu desapontamento com o desempenho do clube. Em suas palavras, o sentimento de vergonha é compartilhado com a torcida.

"Dizer que meu sentimento de vergonha. É o mesmo de qualquer torcedor do Vitória. A gente só tem que pedir desculpa, não só pela derrota, mas por todo o semestre. A gente faz muito esforço para pagar salário em dia, e é inadmissível acontecer o que aconteceu ontem. Só nos resta pedir desculpas e trabalhar."

A avaliação do trabalho de Thiago Carpini, que assumiu em maio do ano anterior e teve papel fundamental na permanência da equipe na Série A, revelou um declínio de prestígio em 2025. A série de resultados insatisfatórios erodiu a confiança dos torcedores. Sob o comando de Carpini, o Vitória disputou 76 partidas, registrando 29 vitórias, 22 empates e 24 derrotas, resultando em um aproveitamento de 48%.

A decisão de desligar o treinador, segundo Mota, não foi simples. Após a dolorosa eliminação na Sul-Americana, conversas ocorreram com a comissão técnica e os jogadores, que, em um primeiro momento, manifestaram apoio ao técnico. No entanto, a forma como o time se apresentou na eliminação recente tornou a mudança inevitável. "Futebol é sucesso e convicção", afirmou o presidente, ressaltando a necessidade de uma escolha rápida e criteriosa para o novo comandante, que deverá se alinhar ao perfil do elenco atual. Uma reunião na manhã seguinte à derrota selou o destino de Carpini.

A Autocrítica e o Cenário de Reformulação Urgente

Fábio Mota admitiu falhas no planejamento, reconhecendo que o ano de 2025 foi "um ano de erro" para o Vitória .

"Acho que o planejamento foi errado, não tenho problema em admitir. Mas não tem crise. Assumo minha culpa. Erramos. Esse ano nós erramos em tudo. Agora temos que mudar a realidade do Vitória, e para isso temos que mudar os ciclos. Afastamos os jogadores que não estavam acrescentando, trocamos diretor de futebol, estamos trazendo novos jogadores, restou agora a troca do treinador, que era o último pilar do que foi planejado no começo do ano. Ninguém está parado aqui assistindo o que está acontecendo."

O foco do Vitória , agora, reside exclusivamente no Campeonato Brasileiro. Com quatro jogos sem vitória na competição, a equipe flerta com a zona de rebaixamento, ostentando os mesmos 11 pontos do Internacional, que abre o Z-4. A urgência por uma reviravolta é palpável.

Para reverter o quadro, uma intensa reformulação no elenco está em andamento. Até o momento, oito atletas deixaram o clube: Hugo, Fau, Carlos Eduardo, Bruno Xavier, Janderson, Gabriel, Wellington Rato e Gustavo Mosquito. Em contrapartida, três novos nomes foram integrados: Thiago Couto, Rúben Rodrigues e Renzo López. A expectativa é de mais saídas e chegadas, moldando o grupo para a sequência da temporada.

O Mercado da Bola e a Busca por Novas Peças Estratégicas

O planejamento inicial previa a contratação de seis a sete jogadores, mas a chegada de um novo treinador pode redefinir essas necessidades. O mercado está em constante movimento, e a diretoria busca resolver as carências rapidamente, mesmo diante das dificuldades de encontrar profissionais do nível desejado.

"Nosso mercado está muito difícil. O planejamento continua. Na nossa cabeça, a gente ainda quer trazer um lateral-esquerdo, um meia e dois beiradas, mas a gente tem que conversar com o novo treinador. Temos até 2 de setembro."

Mota revelou que o Vitória já tem mais dois reforços "encaminhados": um lateral e um meio-campista, ambos vindo do mercado internacional. Com essas adições, o número de jogadores contratados pelo Rubro-Negro na temporada atingirá a marca de 26. O presidente aproveitou para fazer uma comparação, ilustrando a complexidade de gerir um clube com recursos limitados.

"Se eu fosse presidente do Flamengo ou do Palmeiras eu não tinha esse problema. Com grana eu contratava três ou quatro e não errava. Só erra quem contrata muito. A gente contrata muito porque tem que montar um time novo a cada campeonato."

Essa realidade, segundo Mota, persistirá enquanto a base do clube não for reestruturada, citando que atualmente há apenas um jogador oriundo da base no elenco principal. O Vitória , que há três anos estava na Série C, viveu uma ascensão meteórica com acessos consecutivos, mas essa rápida progressão também trouxe desafios na consolidação de um projeto. Mota assume os erros, mas acredita na capacidade de recuperação. "Já tivemos problemas piores. A vida é assim."

Desafios e o Futuro do Leão: SAF e a Escolha do Próximo Comandante

A busca por um novo treinador está a todo vapor, e a possibilidade de um profissional estrangeiro não é descartada, especialmente pelos custos mais acessíveis. A urgência é alta, com o desejo de ter o novo técnico já no comando para o próximo jogo. Márcio Goiano, auxiliar fixo do clube, assumirá interinamente no sábado.

Sobre o tempo para demitir Carpini, Mota argumentou que a relação do treinador com os jogadores era boa, e o elenco havia manifestado apoio. No entanto, a terceira eliminação inesperada, classificada como um "episódio de vergonha", tornou a decisão inevitável. "Chega um momento que não dá mais. É o fim do ciclo", sentenciou, comparando com as saídas de Burse e Léo Condé.

O projeto passa por um recomeço. A filosofia do clube é que o treinador organize o time a partir do elenco montado. O novo profissional terá a liberdade de analisar o plantel e expressar suas necessidades, podendo inclusive ter um estilo diferente do antecessor.

A dificuldade em contratar é um problema generalizado no futebol brasileiro, não exclusivo do Vitória . Mota destacou a escassez de jogadores disponíveis no mercado nacional, especialmente aqueles que não excederam o limite de sete jogos no Brasileirão, o que leva os clubes a buscar alternativas no exterior. As duas novas contratações encaminhadas, um lateral e um meio-campista, também são de fora do país.

A urgência por reforços aumentou exponencialmente após a derrota para o Confiança. O presidente enfatizou que não há mais margem para erros nas novas contratações. "Já erramos tudo que poderíamos. Errar agora é fatal." O elenco , por sua vez, recebeu a notícia da demissão de Carpini com a compreensão de que a responsabilidade é compartilhada. "Se era esse um escudo que os jogadores tinham, agora o escudo caiu", disse Mota.

Por fim, Mota abordou a repetição de ciclos de reformulação e a visão de futuro para o clube. O futebol, para ele, não é uma ciência exata, e o sucesso está diretamente ligado ao orçamento. O caminho da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) é visto como a solução para a competitividade, mas depende da chegada de um "investidor de verdade". Ele citou exemplos como o Fluminense, que com menor orçamento, atingiu o patamar de um dos quatro melhores times do mundo. A busca por um novo treinador seguirá um processo de inteligência, com opiniões de diversos setores, embora a decisão final não seja exclusiva do técnico. Mota concluiu que, apesar do aumento de investimento este ano, o sucesso não veio, e "acontece".